quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Etapa Municipal da Olimpíada de Língua Portuguesa parabeniza aluna vencedora do texto de Memórias Literárias.


A SEMED parabeniza a aluna Deisy Luana Teixeira de Souza da Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Leandro Pinheiro que foi a vencendora da etapa municipal da Olimpíada de Língua Portuguesa. Vale ressaltar, o trabalho da professora mediadora desse conhecimento, Fernanda Marlyse, que realizou as oficinas com seus alunos. Leia a seguir o texto vencedor:


O Sonho Vermelho da Comunidade Santo Antonio.

Minha mãe gosta muito de contar histórias sobre o lugar onde vivia quando criança. Ela diz que mesmo passado tanto tempo, ainda lembra com muito orgulho das alegrias e dificuldades pelas quais passou.
“Como era bom viver naquele tempo, onde avós, tios e primos se reuniam nas noites prateadas para ouvir, sentados em tamboretes, histórias engraçadas e arrepiantes. Meu lugar se chama Santo Antônio, comunidade do interior de São Miguel do Guamá. Era um vilarejo de pouca gente, sem ruas, apenas caminhos, com uma casa aqui, outra acolá e costumes modestos como tomar banho, lavar roupa e ariá panelas no igarapé, assar e comer peixe frito com açaí e chibé.
Morávamos meus pais, dez irmãos e eu, numa casinha com cheiro de terra molhada, de apenas três compartimentos e dormíamos em redes iluminadas com as lamparinas, pois aqui não existia eletricidade. Com o passar do tempo, as histórias de lobisomem, mulher da teta grande e outras foram ficando para trás, onde só se ouvia o cri-cri dos grilos e o coaxar dos sapos, passou a se ouvir o chiado de uma televisão.
Lembro-me de tudo como se fosse hoje. A primeira televisão vermelha de 12 polegadas que chegou à casa grande de meu avô. Foi uma novidade para todos os netos, que trocaram o terreiro, o céu estrelado com as histórias e “causos” pelo chão frio de cimento. Os vizinhos, nem se fala. Adoraram. Não saíam da janela do vovô. As noites de luar com as inesquecíveis serenatas regadas a viola, foram substituídas pelos jornais e telenovelas, até mesmo pelos comerciais. Olhávamos tudo, cheios de alegria, admiração e muito silêncio aquela pequena e grande televisão. E o mais engraçado era que a criançada não podia dar nenhum pio, senão, vovô Antônio, ameaçava desligar a TV, e isso era o suficiente.
Vinha gente de todas as redondezas, ver a novela e o jornal, sendo que a primeira era mais interessante e quando a bateria estava descarregando, a TV era desligada nos comerciais para que não perdêssemos nenhuma parte. (a TV era ligada somente à noite).
A novela custava um grande sacrifício para mim e meus irmãos, pelo fato de acordarmos às 5 da manhã para ir a pé por uma trilha de 5 km até o ônibus que nos levava à escola e às vezes de levarmos a valiosa bateria que pesava 7 kg, na cabeça para carregar na cidade. Enquanto isso, vovô avisava a todos que não haveria novela porque a bateria estava para o “carrego”. Ainda me lembro daquelas longas e dolorosas noites sem televisão, ficávamos todos em nossas casas, mudos, esperando o sono chegar.
O tempo foi passando e meu avô, viúvo, resolveu vender suas terras e ir para cidade. E a televisão vermelha? Bom, ele levou junto. Foi triste para nós porque meus pais não tinham condições de comprar uma. Para os vizinhos, uma perda inesquecível, também. Nossa comunidade nunca mais foi a mesma.
Atualmente, temos energia elétrica, celular, televisão, até internet, tudo está diferente, pois a modernidade já chegou por aqui. Aqueles dias com a primeira televisão ficaram guardadas na memória dos que viveram o sonho vermelho”.
Após o relato de minha mãe, percebi que, de seus olhos rolavam uma única lágrima, não de tristeza, mas de felicidade por relembrar seus tempos de menina.


Aluna Deisy Luana Teixeira de Souza
Turma: 7ª série
Professora: Fernanda Marlyse Grancini dos Santos
Escola Municipal Padre Leandro Pinheiro.

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